Quanto vale sua vida?
Qual é o Valor. Qual é o Preço?
Por Douglas Lugano
Olá galera!
Fazia tempo que eu não postava alguma matéria no meu blog devido a projetos novos que vem chegando muito em breve. Por isso, estou me dedicando a esse projeto, esse sonho, e peço desculpas pela minha ausencia.
Como todos sabem, e se não sabiam, devem ter acompanhado nas postagens anteriores sobre meu trabalho com as famílias das crianças da ONG. É um trabalho lindo, e em breve, vocês poderão acompanhar mais de perto.
Ainda sobre esse trabalho, em minhas visitas, sempre pergunto se posso postar o conteudo das nossa conversas. Infelizmente, algumas imagens e as conversas não podem ser publicadas, por questão de sigilo e ética. Mas essa ultima visita que fiz, na semana passada, me foi pedido pelo próprio visitado, para que eu contasse essa história. E vale a pena ler. Você pode se emocionar. Hashtag recomendo!#Recomendo
Não sei quanto vale a vida, até porque
nunca coloquei a minha a venda, mas para Juan Pablo de 65 anos, ela não tem
preço, mas valores.
Na semana passada, fui visita-lo
no hospital na zona oeste de São José dos Campos, minha cidade que fica no
interior de São Paulo, a pedido do filho, Pablo, seu filho do meio, 31 anos. Entrei no quarto com cinqüenta minutos de atraso em uma visita agendada para as
15h15, culpa do trabalho, nem por isso a família deixou de me receber com um largo e amistoso
sorriso. Entrei no quarto, e já fui levando bronca com um sonoro sermão de “Achei que fosse vir pra janta!” nada
que um sorriso não traduzisse as desculpas.
Cumprimentei a esposa, dona Helena,
e suas duas filhas “Andréa, de 29 anos, nutricionista e Maria de Lourdes, 21
anos que preferiu ser enfermeira pra se dedicar no cuidado com o pai que a mais de uma década luta
contra um câncer na próstata e com metástase no pulmão. No quarto ainda estavam
dois enfermeiros e um médico do plantão que quiseram acompanhar a conversa,
também os cumprimentei.
Enfim, me aproximei do sr. Juan,
dei um abraço e me sentei numa poltrona que me permitia estar na mesma altura
de seu leito, porém, de costas para os demais. Acima de sua cama, haviam dois
espelhos grandes que eu conseguia ver quem estava atrás de mim.
Começamos a conversa, com ele me
falando dos dias atuais, sobre a política e depois ele fez questão de relembrar a
derrota da seleção brasileira na copa do mundo, e me perguntou se meu país
(Uruguay – depois conto o por quê, num outro post, quem sabe...) não teria
vencido se não fosse pela mordida do Luiz Suarez. Respondi que sim. Foi então
que o sr. Juan começou a falar da vida, de sua situação, lutando contra a
doença por quase 18 anos, e como essa luta tem um grande significado em sua
vida.
Para quem tem câncer e venceu, é
um alivio e uma apreensão. Alivio porque você sabe que a doença te deixou em paz, mesmo estando sem evidencias de câncer, e uma
apreensão porque você sabe que não está totalmente curado, e por isso a
necessidade de ficar sob alerta, fazer os exames de “manutenção” e seguir uma
serie de regrinhas. Mas para quem ainda está na luta, cada manhã é uma vitória.
E pra quem fica, depois que alguém “venceu o câncer”, é o começo de uma nova
luta, só que uma luta diferente, porém
não menos árdua.
Para o Sr. Juan é a forma de “experimentar” a docilidade da
vida, só que em pratos frios. “A gente tenta rejeitar, mas é preciso comer!”
Nessas visitas, é comum sermos
apenas o ouvinte. Nada de dar conselhos, dar opiniões, ouça! Apenas ouça.
“Não sou eu que tenho azar em ter um câncer, mas o câncer é que tem o azar de me ter como adversário! Sou um homem que não tem um câncer evoluído, mas um homem evoluído apesar de um câncer. É esse o valor da vida, é esse o preço que eu pago”
(Sr. Juan Pablo)
Continuou então falando da
família. Falou da esposa, o quanto a amava, mas ainda advertiu: “Para de chorar
sua boba! – disse - É assim o tempo todo, menino, não pode vir uma pessoa aqui
que ela derrete feito manteiga".
Falou do orgulho que tem pelos filhos citando as
qualidades e os defeitos, principalmente, de cada um. Foi então que, todos ali,
promoveram um silencio, aquela pausa tensa. Então, aquele homem de aparência
cansada, conteve o choro e desabafou. “Estou a dois meses neste estado
terminal. Me dei conta disso quando comecei a receber os mimos dos médicos, e
as comidas fora da dieta habitual. Onde já se viu comer lasanha, quando a dias
atrás eu só comia macarrão sem sal? Dói, chega a arder, machuca, mas na minha
situação agora é esperar o inevitável. Não sou católico, mas já recebi visita
do padre amigo do meu filho, de uns evangélicos que vêem aqui orar, essas
coisas me fazem bem, me trazem paz e é isso que importa.” A essa hora, já
estávamos todos movidos por emoção. Depois de falar sobre quase tudo, resolvi
então perguntar ao homem que tem como sobrenome “Ferro” se ele pensava no
momento da morte. Respondeu que sim, e completou: “A todo instante!” então,
tomei coragem e emendei a pergunta: “Já pensou como vai ser o momento?” – Do
encontro? – perguntou – Sim – respondi. Nesse momento a filha mais nova
interveria, mas a mãe a conteve. “Eu vou olhar pra ela (morte) e dizer que
estava morrendo de vontade de
conhecê-la. Já aceitei a doença. A aceitação nos faz evoluir. E eu preciso
evoluir. Estou num estado físico deplorável, como vêem, mas a minha alma
precisa evoluir. Acho que quando eu chegar no outro plano a evolução vai
continuar.” E como imagina essa evolução? – perguntei novamente. “Acredito que lá
deva ser um gramado, desses padrões FIFA, numa manhã de dias frios. A neblina
tomando conta da visão e você não consegue enxergar a dois metros a medida que
você vai caminhando. Quando toda essa neblina ou névoa se dissipar, então a
evolução estará completa e você contemplaria a divindade. É assim para os católicos,
é assim pros evangélicos, é assim pros cardecistas” – Mas o senhor ...? – Não, eu não
seguia religião, não sigo, mas a doença me fez aproximar no Deus com “D” maiúsculo
e a minha evolução vai terminar quando eu estiver de frente com ele...”
A conversa foi interrompida pelo
médico, motivado pelo choro das filhas. Sr. Juan me abraçou forte, e enquanto nos despedia ele me disse algo ao pé do ouvido que não posso publicar. Me despedi dos demais e fui pra casa
sentindo uma paz e o sentimento de dever cumprido. Sr. Juan continua lutando e
sua luta está chegando ao fim. Seu maior exemplo? Segundo o filho é nunca ter desistido
de nada nessa vida. "Ele nunca desistiu de mim, nem da minha mãe, nem dos meus irmãos”
Aos familiares, a minha promessa de sempre estarmos juntos e minha prece silenciosa. Ao senhor, a minha gratidão e a certeza de que irei cumprir com seu pedido...
#ELO #ElosDaEsperança #ACorrenteDoBem2014 #Motivação
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