quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Sim, temos bananas!

Passava todos os dias em frente a um varejão e pensando em levar uma fruta pra fazer alguma sobremesa que me remetesse à minha infância. Obviamente, a fruta mais comum de se ver na minha casa era ela, a banana.

Meu pai, quando podia, comprava outras da estação, porque eram - naquela época - mais barato em relação às demais, mas banana era a mais acessível. Menos na semana santa. Depois do domingo de Ramos ela já dobrava o preço. Na semana santa, ela acompanhava a paçoca, que é o desjejum em épocas de penitência. Uma tradição que passou da família da minha mãe para a família do meu pai.

Quando aparecia a banana da terra em casa, a única coisa que sabíamos fazer era frita-la e comer tomando cafe. "Não é banana pra se comer crua. A língua fica pegando!" - dizia meu pai.

A gente vai crescendo e perde a "ignorância", comprando revistinhas de receitas, assistindo Ana Maria Braga e conhecendo gente que come de forma, digamos, chic.

Foi numa dessas vezes, na casa de um amigo, perdi a ignorância do menino pobre e arrisquei fazer à minha moda.

Tirei a casca da banana, com carinho, cortei ao meio e "de cumprido", com jeito. Aqueci uma frigideira, dessa vez antiaderente, com "teflon" - como diria minhas irmãs, coloquei manteiga e depois de derretida deitei a banana.

Grelhada de um lado, virei com cuidado. Enquanto isso, fazia as bolas de sorvete e acomodava nos pratos.

Antes de terminar, um pouco de melaço de cana e Cointreau - aproveitei os ingredientes que me ofereceram.

Quando servi, ouvi um elogio, tal como 'você leva jeito pra cozinha". Só não sabiam que eu estava era com fome. Acredite, o nosso subconsciente, quando estamos com fome, nos faz arriscar nas criações descobrindo sabores que não provamos antes. Isso é química!

Não foi esse o momento que descobri a cozinha como dom, posso dizer que foi um deles... Pudera, eu tinha meus quatorze anos ainda. Mas posso dizer que até hoje é uma das minhas sobremesas prediletas.



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