terça-feira, 12 de agosto de 2014

O valor de uma vitória

Quanto vale sua vida?
Qual é o Valor. Qual é o Preço?
Por Douglas Lugano

Olá galera!

Fazia tempo que eu não postava alguma matéria no meu blog devido a projetos novos que vem chegando muito em breve. Por isso, estou me dedicando a esse projeto, esse sonho, e peço desculpas pela minha ausencia.

Como todos sabem, e se não sabiam, devem ter acompanhado nas postagens anteriores sobre meu trabalho com as famílias das crianças da ONG. É um trabalho lindo, e em breve, vocês poderão acompanhar mais de perto.

Ainda sobre esse trabalho, em minhas visitas, sempre pergunto se posso postar o conteudo das nossa conversas. Infelizmente, algumas imagens e as conversas não podem ser publicadas, por questão de sigilo e ética. Mas essa ultima visita que fiz, na semana passada, me foi pedido pelo próprio visitado, para que eu contasse essa história. E vale a pena ler. Você pode se emocionar. Hashtag recomendo!#Recomendo

Não sei quanto vale a vida, até porque nunca coloquei a minha a venda, mas para Juan Pablo de 65 anos, ela não tem preço, mas valores.
Na semana passada, fui visita-lo no hospital na zona oeste de São José dos Campos, minha cidade que fica no interior de São Paulo, a pedido do filho, Pablo, seu filho do meio, 31 anos. Entrei no quarto com cinqüenta minutos de atraso em uma visita agendada para as 15h15, culpa do trabalho, nem por isso a família deixou de me receber com um largo e amistoso sorriso. Entrei no quarto, e já fui levando bronca com um sonoro sermão de “Achei que fosse vir pra janta!” nada que um sorriso não traduzisse as desculpas.

Cumprimentei a esposa, dona Helena, e suas duas filhas “Andréa, de 29 anos, nutricionista e Maria de Lourdes, 21 anos que preferiu ser enfermeira pra se dedicar no cuidado com o pai que a mais de uma década luta contra um câncer na próstata e com metástase no pulmão. No quarto ainda estavam dois enfermeiros e um médico do plantão que quiseram acompanhar a conversa, também os cumprimentei.

Enfim, me aproximei do sr. Juan, dei um abraço e me sentei numa poltrona que me permitia estar na mesma altura de seu leito, porém, de costas para os demais. Acima de sua cama, haviam dois espelhos grandes que eu conseguia ver quem estava atrás de mim.

Começamos a conversa, com ele me falando dos dias atuais, sobre a política e depois ele fez questão de relembrar a derrota da seleção brasileira na copa do mundo, e me perguntou se meu país (Uruguay – depois conto o por quê, num outro post, quem sabe...) não teria vencido se não fosse pela mordida do Luiz Suarez. Respondi que sim. Foi então que o sr. Juan começou a falar da vida, de sua situação, lutando contra a doença por quase 18 anos, e como essa luta tem um grande significado em sua vida.

Para quem tem câncer e venceu, é um alivio e uma apreensão. Alivio porque você sabe que a doença te deixou em paz, mesmo estando sem evidencias de câncer, e uma apreensão porque você sabe que não está totalmente curado, e por isso a necessidade de ficar sob alerta, fazer os exames de “manutenção” e seguir uma serie de regrinhas. Mas para quem ainda está na luta, cada manhã é uma vitória. E pra quem fica, depois que alguém “venceu o câncer”, é o começo de uma nova luta, só que  uma luta diferente, porém não menos árdua.
Para o Sr. Juan é a forma de “experimentar” a docilidade da vida, só que em pratos frios. “A gente tenta rejeitar, mas é preciso comer!”

Nessas visitas, é comum sermos apenas o ouvinte. Nada de dar conselhos, dar opiniões, ouça! Apenas ouça.

“Não sou eu que tenho azar em ter um câncer, mas o câncer é que tem o azar de me ter como adversário! Sou um homem que não tem um câncer evoluído, mas um homem evoluído apesar de um câncer. É esse o valor da vida, é esse o preço que eu pago”
(Sr. Juan Pablo) 

Continuou então falando da família. Falou da esposa, o quanto a amava, mas ainda advertiu: “Para de chorar sua boba! – disse - É assim o tempo todo, menino, não pode vir uma pessoa aqui que ela derrete feito manteiga".
Falou do orgulho que tem pelos filhos citando as qualidades e os defeitos, principalmente, de cada um. Foi então que, todos ali, promoveram um silencio, aquela pausa tensa. Então, aquele homem de aparência cansada, conteve o choro e desabafou. “Estou a dois meses neste estado terminal. Me dei conta disso quando comecei a receber os mimos dos médicos, e as comidas fora da dieta habitual. Onde já se viu comer lasanha, quando a dias atrás eu só comia macarrão sem sal? Dói, chega a arder, machuca, mas na minha situação agora é esperar o inevitável. Não sou católico, mas já recebi visita do padre amigo do meu filho, de uns evangélicos que vêem aqui orar, essas coisas me fazem bem, me trazem paz e é isso que importa.” A essa hora, já estávamos todos movidos por emoção. Depois de falar sobre quase tudo, resolvi então perguntar ao homem que tem como sobrenome “Ferro” se ele pensava no momento da morte. Respondeu que sim, e completou: “A todo instante!” então, tomei coragem e emendei a pergunta: “Já pensou como vai ser o momento?” – Do encontro? – perguntou – Sim – respondi. Nesse momento a filha mais nova interveria, mas a mãe a conteve. “Eu vou olhar pra ela (morte) e dizer que estava morrendo de vontade de conhecê-la. Já aceitei a doença. A aceitação nos faz evoluir. E eu preciso evoluir. Estou num estado físico deplorável, como vêem, mas a minha alma precisa evoluir. Acho que quando eu chegar no outro plano a evolução vai continuar.” E como imagina essa evolução? – perguntei novamente. “Acredito que lá deva ser um gramado, desses padrões FIFA, numa manhã de dias frios. A neblina tomando conta da visão e você não consegue enxergar a dois metros a medida que você vai caminhando. Quando toda essa neblina ou névoa se dissipar, então a evolução estará completa e você contemplaria a divindade. É assim para os católicos, é assim pros evangélicos, é assim pros cardecistas” – Mas o senhor ...? – Não, eu não seguia religião, não sigo, mas a doença me fez aproximar no Deus com “D” maiúsculo e a minha evolução vai terminar quando eu estiver de frente com ele...”

A conversa foi interrompida pelo médico, motivado pelo choro das filhas. Sr. Juan me abraçou forte, e enquanto nos despedia ele me disse algo ao pé do ouvido que não posso publicar. Me despedi dos demais e fui pra casa sentindo uma paz e o sentimento de dever cumprido. Sr. Juan continua lutando e sua luta está chegando ao fim. Seu maior exemplo? Segundo o filho é nunca ter desistido de nada nessa vida. "Ele nunca desistiu de mim, nem da minha mãe, nem dos meus irmãos”


Aos familiares, a minha promessa de sempre estarmos juntos e minha prece silenciosa. Ao senhor, a minha gratidão e a certeza de que irei cumprir com seu pedido...

#ELO #ElosDaEsperança #ACorrenteDoBem2014 #Motivação

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