sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Pão. Alimento e benção.

Meu pai sempre me ensinava que mesmo quando você não tiver nada pra oferecer a alguém, era pra "fazer algo você mesmo".

Me dizia isso porque no começo não tínhamos tantos recursos e eu me sentia constrangido por recusar sair com os amigos por questões financeiras.

Essa idéia de fazer algo eu mantive comigo, mesmo que as condições tenham melhorado. 

Sempre que faço alguma coisa para nós aqui em casa eu fico pensando de como seria bom se alguém de fora estivesse a mesa conosco.

Infelizmente não consigo o feito de ter uma mesa grande onde caibam todos que eu gostaria de ter num café ou almoço.

Então eu adotei uma prática. É minha, silenciosa. 

Fazer pães é algo simples, mas é um gesto cheio de generosidade. Os ingredientes são simples. Mas nele tem o tempo, o cuidado, a paciência, o dom, a disponibilidade e, principalmente, o carinho ao fazer e mais ainda, sabendo para quem vai.

Pães de fermentação natural, assados em panela de barro
Foto: Douglas Luganoo

Eu não vendo pães. Os pães que eu faço em casa são preparados em receitas dobradas. Um sempre é pra quem eu gostaria que estivesse aqui comigo, tomando um café conosco, fazendo parte dessa partilha de tempo, de atenção, de amizade, de amor e do alimento.

Meu pai me ensinou a ser amigo das pessoas. Talvez pelo fato de ele sentir falta disso em relação a ele, principalmente de quem ele mais esperava...

O que ele fazia questão de ensinar, era que devemos nos importar e procurar estarmos próximos. E foi assim até o fim, mesmo nos seus últimos dias na UTI do hospital.

Se você um dia receber um dos meus pães, saiba que eu gostaria muito de tomar um café contigo.

E o pão é só uma forma de aproximar...



Minha irmã Alessandra e meu pai.
2014, Paraibuna/SP
Foto: Douglas Lugano


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